Apagamento da memória negra é tema de filme com foco nas igrejas evangélicas

A histórica Catedral Metodista do Rio de Janeiro, no bairro do Catete (o primeiro templo da Igreja Metodista no Brasil, cuja capela foi inaugurada em 1882), acolheu o lançamento do documentário “Esquecendo Flora”, uma obra cinematográfica contra o apagamento da memória negra no Brasil. O filme, com direção e roteiro de Beto Oliveira e direção de produção de Beatriz Ferraz, com base na revoltante memória da escravidão e da estrutura racista constituída no Brasil, desde 1500, com a colonização, denuncia o esquecimento de personagens negras relevantes na história do país e enfatiza uma delas, a história de Flora Maria Blummer. 

Flora Blummer foi uma mulher preta, nascida escravizada no interior de São Paulo por 48 anos. Ela foi alforriada por sua proprietária, a educadora missionária da Igreja Metodista nos Estados Unidos Martha Watts, que atuou no Brasil, na segunda metade do século 19, e fundou a primeira escola metodista em Piracicaba (SP), o Colégio Piracicabano. Abolicionista, como muitos evangélicos naquele final de século, Martha Watts alforriou Flora, em 1881, e a ex-escrava se tornou a primeira mulher preta a ser admitida em uma igreja evangélica no país, a Igreja Metodista Central em Piracicaba, em uma época de muita segregação a pessoas negras. 

Uma parceria do Coletivo Memória e Utopia, da Pastoral de Combate ao Racismo da Igreja Metodista – RJ e do Movimento Negro Evangélico – RJ respondeu a um convite da produção do documentário e organizou o evento de lançamento do filme, com o apoio da Catedral Metodista do Rio de Janeiro, realizado na quarta-feira, 7 de julho de 2023.

O momento contou com o significativo número de 71 participantes, muitas pessoas da cidade do Rio mas também de outros municípios, vindas exclusivamente para o lançamento – Niterói, Barra Mansa, Duque de  Caxias, São João do Meriti, Queimados. Outro aspecto relevante foi a variedade de experiências das pessoas presentes, vinculadas a diferentes igrejas cristãs, a outras religiões, a Conselho Tutelar, a movimentos sociais e coletivos antirracismo e em defesa da cutura negra, a universidades, entre outras. Um destaque foi a presença do professor Ivanir dos Santos, conselheiro do Centro de Articulações de População Marginalizada (CEAP), interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e conselheiro do Cais do Valongo. Esta diversidade marcou o rico conteúdo da roda de conversa. 

A abertura contou com palavra de acolhida e oração pela Revda. Samira Teixeira, da Catedral Metodista (foto acima à esquerda), e, depois da exibição do filme, o evento contou com uma roda de conversa. Esse momento (foto acima à direita) teve moderação de Leonardo Viana, do Coletivo Memória e Utopia, e a participação, nas reflexões, de Maria da Fé Viana, da Pastoral Metodista de Combate ao Racismo, de Rakell Matoso, do Movimento Negro Evangélico e de Beatriz Ferraz, diretora de produção do filme, representando a Frame 7, produtora do documentário. Um dos participantes, integrante do Kunta Kinte Espaço Cultural, Júlio Sagás, avaliou: “‘Esquecendo Flora’ é um filme excepcional que nos convida a refletir sobre as nuances da memória coletiva e individual. Sua abordagem sensível e profunda despertou uma gama de emoções dentro de mim. A narrativa cuidadosamente construída, aliada à magnífica atuação do elenco, proporcionou uma experiência cinematográfica única”. 

A diretora de produção do filme Beatriz Ferraz (na foto acima, de branco, junto dos integrantes do Coletivo Memória e Utopia) declarou, ao final, estar muito agradecida pela oportunidade de exibir o filme no Rio: “Estamos muito felizes com o encontro e com a repercussão das discussões. Foi de muita valia ouvir e conversar com convidados/as e demais integrantes da igreja, coletivos e outros grupos”. Beatriz Ferraz explicou que para que a produtora libere o livre acesso ao filme, pela internet, ainda é preciso esperar um tempo:  “O prazo para a liberação é de dois anos após  a finalização do filme (que ainda está na captação de recursos). O cinema independente tem prazos muito longos e precisamos funcionar dessa maneira para o filme ser exibido em festivais de cinema que não aceitam filmes que já estão disponibilizados na internet”. Portanto, Memória e Utopia, o Movimento Negro Evangélico e a Pastoral Metodista de Combate ao Racismo estarão atentos a novas possibilidades de exibição e à futura liberação do acesso ao filme pelas redes.
O filme já havia sido exibido em outros espaços de identidade evangélica metodista, como a Universidade Metodista de São Paulo e o Colégio Piracicabano Enquanto não houver novas exibições, é possível acompanhar informações sobre o documentário pelo perfil do filme no Instagram @filmeflora, também pelo perfil da produtora na mesma rede @frame7_cinema. Vale ler o artigo de Vanessa Barboza aqui.

Fotos: Magali Cunha, com exceção da primeira, ao topo, com o integrante do MNE Hilem Moisés (pela Frame 7), e da última, acima (por Daniel Chapada).

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