“Uma noite de partilha de muita esperança!” Este foi o sentimento expressado pelas pessoas que participaram do Diálogo Juventude, Direitos Humanos e Utopia, promovido pelo Coletivo Memória e Utopia, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro de 2020. A proposta do diálogo nasceu no evento “Memória e Esperança: anos 80 em foco”, realizado pelo coletivo em março passado.
Naquela ocasião, refletiu-se que a juventude deve ser priorizada em todas as iniciativas que pretendam superar o tempo de obscurantismo que o Brasil vive, com ameaça à democracia e aos direitos humanos, desde o golpe no processo democrático brasileiro de 2016. Já haviam sido realizadas atividades que destacam também as mulheres, outro grupo priorizado nas reflexões do evento de março.
O Diálogo Juventude, Direitos Humanos e Utopia dedicou tempo para que quatro jovens, de diferentes contextos em termos regionais, de gênero, de raça e de religiosidade, compartilhassem sua visão dos direitos humanos e sua utopia decorrente.
O diálogo foi mediado pelo teólogo integrante do Coletivo Memória e Utopia Claudio Ribeiro e as reflexões foram oferecidas por Bruno Nogueira, do Rio de Janeiro, estudante de psicologia na UERJ; Débora Amorim, de Duque de Caxias, educadora e ativista social; Gabriel Cândido, de Volta Redonda, estudante de direito na PUC Rio; Suzana Moreira, do Rio de Janeiro, mestranda em teologia na PUC-Rio (imagens nas reproduções de gravaçââo abaixo à esquerda). O diálogo intergeracional foi realizado com o educador e produtor cultural Daniel Evangelista de Souza e com a antropóloga, ex-integrante do Conselho Nacional de Juventude Regina Novaes (imagens nas reproduções da gravação abaixo à direita). Racismo, sexismo, discriminação com pessoas que cumprem medidas penais, destruição do meio ambiente, foram temas que permearam o diálogo (leia o texto de uma das contribuições).
Foi recordada a importância do Estatuto da Juventude, fruto de um processo de discussão que envolveu jovens de todo o país, e se configura na Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013. O Estatuto determina o que o Estado brasileiro deve garantir às pessoas de 15 a 29 anos políticas públicas para essa população em torno de educação, cultura, trabalho, entre tantos elementos que devem garantir dignidade de vida.
Assista às falas dos/as convidados/as do diálogo aqui.
Entre as 100 pessoas que participaram do Diálogo ao vivo, pela sala do Zoom e pelo Facebook, estavam jovens de movimentos sociais e igrejas de diferentes partes do Brasil e pessoas acima de 30 anos também ligadas a grupos similares, interessadas em aprender com as perspectivas expostas pelos convidados/as e interagir com eles/as.
Ao fim da conversa coletiva havia o consenso de que novos diálogos como este devem ser realizados pelo coletivo para aprofundar questões e temas levantados. Expressões citadas no evento permaneceram ecoando: “Nada será como antes… ninguém solta a pauta de ninguém!”
A seguir, algumas ideias de jovens participantes compartilhadas durante o diálogo:
Samara Santana PJMP/FOJUPE : Samara Santana PJMP/FOJUPE : O Fórum de Juventudes de Pernambuco (FOJUPE) produziu “Estatuto da Juventude: Uma Análise Sobre os Direitos”. O material contém artigos sobre cada um dos 11 direitos da juventude previstos pelo Estatuto, além das propostas do FOJUPE defendidas numa conferência livre que foi realizada, além de uma linha do tempo que ajuda a compreender o desenvolvimento das atividades do Fórum. Vale conferir aqui.
Dayse Gomis, da Igreja Metodista: Parabéns ao Coletivo Memória e Utopia. Em tempo de guerra precisamos andar amando!
Rubia Campos: Ótimas falas!! Provocativas e que nos fazem refletir!! Esse assunto precisa ser sempre discutido!! “Direito pra quem”?
Bruna Silva, líder de juventude da Aliança de Batistas do Brasil: Que falas fantásticas, Parabéns pela iniciativa. Que a Ruah Divina continue soprando sobre vocês.
Giovanna Sarto, mestranda em Ciência da Religião pela UFJF: Muito legal estar desfrutando desse momento riquíssimo, parabéns a todas e todos. Uma coisa que tenho me perguntado é justamente um pouco do que temos refletido aqui hoje: o que os direitos humanos têm a ver com cristianismo (ou com religião de modo geral)? Para mim esse é um convite para retornar às origens do cristianismo. É perceber as desigualdades sistêmicas, quem sofre com elas, quem está à margem do sistema… (negras e negros, mulheres, LGBTs, índigenas, pessoas com deficiências, a própria natureza…) e como a gente pode se colocar na construção de um outro horizonte, de um caminhar mais justo. Só tenho a agradecer pelo encontro de hoje. Muito bom! Apesar da conjuntura violenta e nada favorável, não devemos perder a esperança. E é em espaços como esses que a gente toma fôlego pra lutar no dia a dia.
Bruno Nogueira: É um desafio ser revolucionário voltando as origens. Urgente! Estourando as bolhas! Papel de letramento é constante para unir forças. Cuidado, ensino e construção coletiva. Só assim para engajar e sensibilizar aqueles que pensam diferente a viver e compartilhar as mesmas pautas que nós.
Rubia Campos: Muito bom!! Creiamos nessa utopia! Esse momento aqui é ímpar!
Rafaelle Paz: “A Utopia virando realidade”
Samara Santana, liderança da Pastoral da Juventude do Meio Popular e integrante da coordenação do Fórum de Juventude de Pernambuco: “A Utopia é algo concreto”. Penso que os direitos humanos no contexto cristão podem ser vistos na lei maior do amor, o amor político, o amor que não fere a dignidade humana mas a defende a todo custo… isso é defesa dos direitos humanos.
João Gabriel, estudante de jornalismo, São Bernardo do Campo: A luta pelos direitos humanos tem que priorizar a perspectiva antirracista. A classe trabalhadora do Brasil é preta. Grande parte dos ataques de intolerância religiosa são destinados a religiões de matriz africana. No Brasil, enquanto mulheres brancas lutavam pelo direito ao voto, mulheres negras ainda tentavam se libertador dos senhores de escravo. Um dado que choca é que nos primeiros 8 meses de 2020, o assassinato de pessoas trans e travestis aumentou 70%. A maioria delas autodeclarada preta ou parda. Então pra que um feminismo se ele não for negro? Pra que um ativismo LGBT se ele não partir de uma perspectiva preta? Nós do campo progressista priorizamos teóricos brancos e europeus que nem sempre consideram nosso contexto. A luta pelos direitos humanos precisa ser mais que antirracista, precisa ser preta. Temos cada vez mais pessoas pretas na academia, e precisamos ouvi-las para, a partir disso, construir um debate sobre direitos humanos.
Ketlen Fernanda, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI): assisti uma live onde mulheres negras falavam do feminismo, onde também tinha a pergunta Feminismo pra quem ? pois as lutas foram pras mulheres brancas, onde elas não se sentiam incluídas, porque enquanto elas saiam pra lutar as negras ainda ficaram servindo, e que o nome certo que deveria ser usado era “Mulherismo” onde todas fazemos parte dos mesmo direitos … como podemos fazer os jovens e adolescentes, a geração do século 21, se interessarem pelos movimentos hoje?
Outras contribuições, das pessoas participantes com mais de 30 anos, podem ser encontradas aqui.